É com o coração cheio de emoção e um orgulho imensurável que trago para vocês, no blog do International Crossdressing Club (ICC), uma entrevista exclusiva com ninguém menos que Lizz Camargo. Sim, a Lizz, aquela que é, sem dúvida, a maior referência para muitas – senão para todas – no universo crossdresser brasileiro. Uma figura que não apenas transformou vidas, mas também abriu caminhos para que tantas de nós pudéssemos trilhar nossas jornadas com coragem, autenticidade e beleza.
Para mim, pessoalmente, essa entrevista é muito mais do que uma conversa; é um reencontro com quem me “montou” pela primeira vez. Foi a Lizz que me deu a energia inicial, a confiança e o empurrão que eu precisava para adentrar nesse mundo mágico e me tornar quem sou hoje. Ela é a responsável por acender em mim a chama que nunca mais se apagou, e pela qual serei eternamente grata. Poder compartilhar esse espaço com alguém tão grandioso é, de verdade, um dos maiores privilégios da minha vida.
Ao longo dessa conversa, mergulhamos na história de uma mulher incrível, cuja trajetória é recheada de batalhas e vitórias. Lizz não é apenas uma pioneira, mas um verdadeiro farol que ilumina a nossa comunidade com sua força, carisma e dedicação. Ela é o coração e a alma por trás de iniciativas marcantes, como o Studio Cross Dresser e o lendário concurso Rainha Cross, que foi a ponte para que eu pudesse realizar um dos meus maiores sonhos e ser coroada Rainha em 2024.
Lizz, você é um ícone para tantas de nós, mas quem é a pessoa por trás dessa grande figura? Conte-nos um pouco sobre você.
Por trás , ou melhor juntamente com a Lizz Camargo, habita o Jaime Braz, que desde cedo se conhece como um Homem Gay, assumidamente ,desde os 18 anos de idade.
Tive o privilégio de ter nascido num ambiente de pais que nunca me reprovaram neste sentido, e sempre me acolheram, mesmo sem entenderem muito sobre o fato.Mas Amar é isso! e sempre fui recheado por esse amor.. dentro de minha casa. E obviamente aprendi tambem, a respeita-los não fazendo de minha vida, o único fato de ser Gay!
Quando se tem acolhimento e amor dentro de sua casa, o Bulling pode e, existiu na minha vida, fora de casa. Porém quando se é acolhido, o sofrimento que vc traz de fora.. dentro de sua casa ¨Te Cura”, cura tuas feridas e dores.. afinal sou de uma época, em que ser Gay não era muito simples e fácil… Ditadura, anos 70… Frequentava locais gays que você tinha de bater na porta e se identificar para poder entrar, tamanha a repressão existente na época! Mas sempre me mantive fiel, ao que eu sabia ser e, nunca me desviei disso a favor das normas sociais.
A auto descoberta veio cedo, mesmo não entendendo muito sobre o que eu era, mas sabendo com certeza que não fazia parte do dito “Normativo” e me colocando rótulos( mesmo porque eu não os conhecia).
A dor e o prazer de se descobrir e não se voltar contra sua identidade!e assim .. nao foi tao dificil , tambem me descobrir um Homem que adorava se vestir de mulher!
Como você descobriu o crossdressing? Teve algum momento marcante nessa jornada inicial?
O Crossdressing entra na minha vida, mesmo sem entender e saber o que significava , muito cedo…
Aos 7 anos de idade, quando todo domingo íamos visitar minha avó materna: Lá minha mãe guardava seu Vestido de Noiva, e quando o descobri, passava horas com aquele vestido de cauda, andando pelo quintal…
E, você vai me perguntar: O que sua família achava disso? Não sei ao certo, achavam engraçado ” coisa de criança” talvez!
Eu sabia o que aquilo significava, na minha cabecinha de criança: PRAZER! De onde vinha esse prazer? da textura do tecido, da cauda esvoaçando pelo quintal, pelo simples fato de estar vestido com aquele traje. Tanto que eu contava os dias para voltar e poder, novamente, vesti-lo. Assim começou minha trajetória no Crossdressing. Mesmo sem entender nada sobre…
Mais tarde qdo eu tinha uns 14 anos( época que as mulheres usavam penteados com”coque” no cabelo, muitas pegava as meias de seda de minha mãe, entrava no banheiro( escondido) fazia um bolo dessas meias e o colocava por debaixo de uma meia calça e o colocava na cabeça… e me admirava no banheiro… passando batom ( roubado de minha mãe).
Descobrir esse lado feminino ,nao foi difícil, com o tempo, já que eu já me disponha a aceitá-lo dada a minha aceitação em ser gay. Não houve, na verdade, um choque interno, um susto. Tudo fazia parte do mesmo processo.
Assim como desde cedo sabia que nao tinha nenhuma atração pelo sexo feminino, no que dizia a sexo..
Apesar disso eu sabia que seria um choque a meus pais se soubessem.. também desse outro lado. Então me mantinha em segredo..Mas sem culpa !
Com o tempo passando ia a casas de minhas amigas vestia (com o consentimento delas)roupas.. elas me passavam batom e lápis nos olhos.. E o prazer era indescritível!
Renova-se aquele prazer!
Quais foram os maiores desafios e aprendizados no início da sua trajetória como crossdresser?
Aos 18 anos me assumi a todos como Gay… e fui levando minha vida adentrando nesse Universo junto com outros amigos iguais que fui me sintonizando com o decorrer do tempo
A primeira Boate… O primeiro beijo de um outro Homem…Numa época em que também tudo isso era difícil… demonstrar isso em público nem pensar..sair de mãos dadas com o primeiro namorado , nem se sonhava..Resistência era a palavra de ordem!
As boites icônicas da época: Medieval, Corintho, HS,Nostromundo com suas Matinês dominicais…Apesar da repressão Nós existimos e resistimos!
Até que numa festa na Boate Medieval, pedi a um amigo estilista que me “montasse”.. E assim aconteceu… vestido feito sob medida, peruca comprada e penteada, saltos e maquiagem feita por um profissional…E lá estava eu, não tendo um nome, mas sabendo que “estava Mulher” e Feliz sendo literalmente assediada por homens.
E assim seguia minha vida… Sem Nome , sem Rótulos, mas sendo Feliz com que conquistava.
Com 25 anos iniciei comprando minhas primeiras peças femininas…As guardava num Baú que só eu tinha a chave!
Nem todos os meus namorados compartilharam dessa minha descoberta… Mas nunca me senti infeliz por isso
Algo que sempre tive dentro de mim: Não relacionava o exercício do Crossdressing com minha vida sexual…Não sentia necessidade..
Já então, me comunicava com a maioria das pessoas que convivia através e mostrando minha expressão de gênero.E minha sexualidade já desde então era clara a mim e às pessoas que eu me relacionava..Na cama ou fora dela!
Como você enxerga a relação entre expressão de gênero e sexualidade no crossdressing?
Agora, sobre essas questões não entra a minha experiência pessoal, como jaime ou Lizz, mas sim nos ouvidos atentos e acolhedores que sempre tive no decorrer desses 15 anos
A maioria se coloca enquanto Homem casado com filhos ou sem: Heterossexuais e agem como tais na sua intimidade sexual .
Porém quando estão transformadas e “estão Mulheres” o sentir é outro( muitas vezes com muita culpa, e não querendo aceitar e entender, por medo) desejando serem vistas, assediadas e seduzidas por um Homem.
Penso ser algo também ligado ao Autoconhecimento, que muitas vezes é norteado e maquiado pelo o que a Sociedade acha correto… e nem sempre visto de dentro para fora… A bissexualidade muitas vezes traz um imenso medo de não saber administrar ,num momento que já há uma estrutura familiar, alheio a tudo isso!
O Exercício do Crossdressing, em teoria, nada tem haver com as preferências sexuais do indivíduo…Porém com a experiência que adquiri hoje, através de tantos atendimentos, percebo que quanto mais próxima da perfeição, que enquanto cross, buscamos, mais adentramos no Universo Feminino, e consequentemente, se busca experiências mais genuínas de uma Mulher…ou seja, + perfeita= busca olhares masculinos que as contemplem = experiência sexual com um Homem.
Isso que eu vejo em pelo menos 80% das Cross que atendo e já atendi nesses 15 anos de Studio Cross.
O descobrir a Bissexualidade é um fator de choque para muitas… principalmente para as que ja tem uma estrutura familiar chamada “normativa heterossexual”.
Eu penso que somos criados na sua maioria em caixinhas em que homem pode isso e faz assim, e mulher faz aquilo e age assado… Qdo na verdade somos seres multifacetados… livres para escolhas, aliás de algumas…
Como nasceu a ideia de criar o Studio Cross Dresser? Quais foram os maiores desafios e conquistas nessa caminhada?
A idéia de criar um Studio dedicado às Cross, nasceu das minhas necessidades: sou formada em Publicidade e Propaganda, e sentia que o que havia nao atendia as minhas expectativas.
Quando a Duda Nandez fechou o Studio que tinha em São Paulo( o ùnico na época), resolvi arregaçar as mangas e criar junto com a Luciana Marques, o Studio.
O maior desafio do início foi ganhar credibilidade e confiança, já que vivemos num Universo, em que nossos clientes precisam sentir isso, sem sombra de dúvida, para se sentirem seguras, para realizar seus sonhos.
Não tínhamos na época a estrutura que se tem com as redes sociais hoje… O Boca a Boca foi fundamental para adquirirmos Nome e referência.
Você, Paula foi atendida por nós em nosso início!
E assim tudo foi crescendo. E claro nao podemos esquecer de que antes do Studio, eu já tinha a Festa Noite Rainha Cross, a pelo menos 2 anos, com festas mensais…e isso me trazia um Aval de credibilidade, para dar suporte ao Studio e criar uma carteira fiel de clientes, desde aquela época.
Fui imaginando tudo aquilo, além ,lógico, do acolhimento emocional e principalmente auditivo, Pacotes de que eu enquanto Cross gostaria de ter à minha disposição.. E assim fui criando os pacotes do Studio..
Mesmo sendo um Negócio,há algo que me motiva a cada dia a prosseguir: o processo de alguém que até então, em muitos e muitos casos, que nunca havia dito ou ter se aberto com ninguém sobre o “ser Cross” colocar em minhas mãos, essa sua parte tão íntima e significativa… E o resultado de todo processo de criação em transformar um Homem em momentos “in Femme”… e entendendo a janela que se abre para esse ser humano, que só quer ser Feliz e Plena, naqueles momentos!
Sentir e ver nos olhos daquela pessoa que te procura, o desejo daquela sessão, e mais a transformação após todo processo realizado, a satisfação e Felicidade do que procurava e , encontrou!
Os depoimentos que venho recebendo em todos esses anos, sessão após sessão, superam em milhões, todos os desafios que já enfrentei.
Atender e realizar Sonhos não é simples, é complexo: você tem de ter além, um olhar voltado para dentro da pessoa, e mais:
O Significado do que tudo isso irá se construir. Da apoio ao antes e depois… ensinar muitas vezes à administrar esses 2 lados que temos: a vida de homem e os momentos in Femme! sem dor , sem culpa, com felicidade e plenitude.Para que quando há a desmontagem a pessoa não se sinta perdida e sem rumo…Pois aquela Mulher que a pouco lá esteve.. continua dentro de cada uma de nós… esperando o próximo movimento.. pra que ela, de novo suja magnífica!
Mais do que vestir, pentear e maquiar, é isso que procuro diariamente tocar nas pessoas que me procuram…. Ouvi-las e senti-las.
Hoje após todos esses anos já pude ter a Honra de atender 7.508 pessoas.
E enquanto eu me arrepiar com cada resultado, irei continuar!
Suas performances como cover oficial da Hebe Camargo são incríveis! Como foi o processo de assumir esse papel tão icônico? O que essa experiência trouxe para sua vida?
A figura da Lizz Camargo em performances da Hebe Camargo,está totalmente ligada ao NOITE RAINHA CROSS, explico:
Desde o início , eu senti a necessidade de dar estrutura para todas que fossem à Festa: um camarim montado com maquiador(a) perucas para locação, enfim. E assim a Lizz era maquiada com o maquiador que lá estava à disposição: ainda eu estava num processo de criação de mim mesma…
A Festa começou a chamar a atenção de outros públicos: Drags, e em geral do Público LGBTQIA+; e começaram a frequentar. O que eu achava sempre ótimo, inclusive para a convivência das meninas com esse novo Nicho…Interação total…
Numa dessas vezes através de uma Drag famosa : Kaká di Polly,e depois nos tornamos amigas de alma, recebi o convite de ser maquiada por um maquiador, que era transformista e tinha uma vasta história no assunto Maquiagem Luhly Cow.
Aceitei e num dia de Festa, lá fui ser maquiada na casa dela…. Eu usava na época uma peruca curta loira.
Quando a maquiagem terminou, e eu me olhei no espelho, eu não me reconheci..de tão diferente que estava.
Ela me colocou um táxi e cheguei na festa que na época era na Bar Queen.
O meu próprio Staff da época não me reconheceu e as pessoas em geral começaram a dizer: Olha a Hebe!
Achei “engraçadinho e divertido” a comparação, mas não havia até então tomado consciência do que estava acontecendo e pelo o que viria a seguir, daquele momento.
Sempre nas festas havia pessoas da imprensa Lgbt… E através de fotos soltaram no facebook.. Depois de 2 semanas saiu : Nasceu a Cover Oficial de Hebe Camargo. Daí em diante fui chamada a dar entrevistas….Atônita ainda…. convite para participar de festas… e no decorrer do tempo: aprendi a dublar as canções gravadas por ela, e iniciei a ser chamada a fazer performances em festas de aniversário e homenagem a alguém.. fazendo a performance de Hebe Camargo, através da Lizz.
O convite que mais me trouxe consciência de tudo isso, foi quando o Artur Xexéo escreveu o Livro sobre a Hebe, e a editora Record me chamou para participar da noite de autógrafos, na Livraria Cultura.
E lá fui eu, com medo pois naquele momento eu iria estar junto a familiares e amigos íntimos dela
Fui extremamente bem recebida, principalmente pelo filho Marcel.. por amigos dela.. e foi sem dúvida nenhuma, para mim, o meu Debut como Cover dessa que é um ícone da Tv Brasileira que, sempre admirei (infância toda vendo seus programas.)
E na ocasião ganhei um Livro autografado pelo Xexéu com dedicatória, extremamente carinhosa!
Depois disso houveram exposições sobre ela: Farol Santander e shopping morumbi e sempre com carinho e receptividade..
Isso tudo me trouxe uma Mobilidade à mais: ir a todos os ambientes heteros ou não.. mostrando que uma Cross Vive e pode estar em todos os locais, sendo respeitada e benvinda.
Em 2011, você participou do programa A Liga, que foi um marco para o meio crossdresser no Brasil. Como foi essa experiência e de que forma impactou sua vida e carreira?
O Programa A liga comandado pelo Cazé Peçanha, tinha como tema naquele momento o assunto CROSSDRESSING e me procuraram, sugerindo esse programa que eu contasse sobre o assunto.
Porém a princípio, houve dificuldades em me acertar com a Produção do programa, pois eles queriam não só eu (que era assumida e aparecia em qualquer local) mais a presença e o depoimento de outra Cross que também fosse assumida e que eu pudesse levar. Na sua maioria, todas tinham problemas de aparecer, já que o programa era em âmbito nacional.
Eu queria saber com exatidão qual era o foco no assunto Crossdressing. E assim foi com detalhes: eu vi que só iria acrescentar o entendimento e a informação sobre o Movimento de forma positiva da mesma forma uma Cross ( Cynthia, que aliás foi a segunda Rainha Cross) decidiu se mostrar o rosto como menino e depois como Cross, já que estava decidida a contar inclusive na empresa que trabalhava.
E assim fomos… uma jornada pelo universo, em que o Cazé passou por todo processo de “montagem”, incluindo, de forma fictícia que estavam numa das festas Noite Rainha Cross, com algumas das meninas (todas de máscaras) apenas eu e a Cynthia mostrando os rostos.. e finalizamos com a passagem de todas nós em plena avenida Paulista, com o Cazé perguntando às pessoas: você sabe o que é Crossdressing?
Foi sem dúvida um divisor de águas para todas nós, Cross, com + um exemplo de que a informação, destroi o Preconceito. Diria que foi uma gota importante no Oceano da Ignorância e discriminação…
Depois veio o Programa matutino “Bem estar”da Globo, vieram até o estúdio, para mostrar a minha transformação de Jaime em Lizz Camargo e falar sobre o assunto. Outro ponto ultra positivo a favor do movimento.
Depois a Fecomércio me entrevistou para uma matéria sobre o desenvolvimento do atendimento no varejo a nós crossdressing (tenho essa edição se precisar).
Uma entrevista esclarecedora com a Drag Ikaro Kadoski… que para mim foi das melhores que já dei..Cobrindo todos os pontos de nossas trajetória (No youtube vc encontra) com o tema Crossdressing.
Na sua visão, como a mídia brasileira tem tratado o crossdressing? Você percebe avanços na maneira como somos representadas?
Todo esse meu relato acima ocorreu Pré Pandemia. Creio que houve um interesse real pela mídia nessa época. Saia o assunto num determinado canal ou em outro formato de Mídia, outro buscava também
Durante a Pandemia houveram muitas lives individuais ou não, ora para se sair da solidão, ou sim para trazer um conteúdo real a vários assuntos. E surgiram os tais Influencers, e com eles rótulos e mais rótulos de outras facetas da sexualidade humana.O leque cresceu tanto que nós deixamos de ser assunto. E ,veja a falta de informação sobre o que é ser uma crossdressing , se instaurou novamente.
Não vejo nada que acresça realmente ao nosso Movimento por parte da Mídia.
Há quase 3 meses, fui convidada a participar de uma entrevista para ser incluída num documentário com o nome ainda provisório: Corpo e Alma, que fala sobre corpos extraordinários que tenham histórias a contar.. Fui incluída por ser Crossdresser e fazer Perfomance da Hebe.
Em todos os locais que vou como convidada ou não, e qdo tenho a chance digo que sou Crossdresser, pois hoje dada a minha inclusão no universo das Drags, travestis de shows e vida noturna, as pessoas se esquecem disso. Faço questão absoluta de levantar a bandeira esteja eu, onde estiver.
A Mídia tem dito muito pouco sobre o assunto.Talvez, minha opinião, deixamos de ser assunto diante da tamanha diversidade de personagens e facetas de “como eu me sinto e sou”
E ao mesmo tempo, procuro não ficar apenas em nosso Gueto justamente para me mostrar e através da minha figura, nos mostrar.
Fazemos parte do Mundo… e Somos Milhões, senão, muito mais.
Ainda é um assunto que a Mídia poderia explorar da forma correta, em maior dimensão. Já houve maior interesse nisso!
O Rainha Cross é o maior evento do meio crossdresser no Brasil. Como surgiu a ideia de criar o concurso?
Se as Festas Noite Rainha Cross foram criadas com o objetivo de Interação Social entre as Cross cds, e afins, convivência numa noite feita a todas independente do status social ou poder aquisitivo.
O Concurso RAINHA CROSS criei para dar EMPODERAMENTO às participantes.
Já que podiam e desejavam ser vistas pelas outras, porque não criar um Concurso para que elas tivessem um Holofote maior em suas personalidades de Cross…
Eleger uma Rainha, que nos representasse durante 1 ano.
A Coroa é representativa não só da Vitória, mas com o compromisso de levar nosso Universo a outros cantos.
Assim foi criado o Concurso, não com o objetivo de Beleza, mas de Feminilidade, Postura e desenvolvimento social
Como tem sido a experiência de organizar e acompanhar o crescimento desse evento?
Quais rainhas já foram coroadas ao longo dos anos? Tem alguma história ou momento especial que você gostaria de destacar?
2013 Divynne Scandall ( a última a se inscrever 2 dias antes do concurso)
2014 Cynthia Andreia ( depois da sua participação do programa a liga)
2015 Monique Bertolli (a primeira Rainha eleita numa boite totalmente LGBTQIA+ ” Cantho” com + de 200 pessoas do universo LGBT)
2016 Michelly Ayumi (a + nova participante com 20 aninhos)
2017 Hadami Ornate (Eleita numa festa no Hotel Cambridge)
um Período sem concurso:contando com a Pandemia
2024 Paula Lavigne Silva ( Você, Eleita num Teatro com quase 100 pessoas)
2025 a Próxima…
Como você enxerga o futuro do concurso? O que podemos fazer, como comunidade, para torná-lo ainda mais conhecido e grandioso?
A organização dos Concursos são sempre complexos: Não esqueçamos da dificuldade de muitas Cross estarem em evidência, mesmo desejando muito isso
Valor do evento desse tipo: Local infraestrutura e afins
Mas esse Evento eu diria que é a menina dos meus olhos, pois é o ápice do que eu imagino a todas Voces RAINHAS Cross
Já penso em 2025 para o próximo evento… Inovar algo, incluindo , talvez, a participação do público para votar na sua Rainha
Enquanto Comunidade, o papel, neste evento, é , e ,sempre será , sendo a mais participativa possível..
Afinal é o único concurso que realmente Empodera nossa Classe!
Como você avalia o cenário atual do crossdressing no Brasil? Quais avanços mais te marcaram nos últimos anos?
Há alguns meses, uma amiga esteve fazendo uma viagem cultural em Nova York, esteve na Biblioteca Municipal de New York, e qual não foi a surpresa, quando viu uma exposição que trazia a História de celebridades que mudaram a História nos U.S.A mostravam através de fotos a trajetória de Crossdressing durante os anos( 150 anos de trajetória) ao lado de fotos e matérias sobre o Homem na Lua, resistências Raciais, enfim.
No Brasil, por exemplo: dentro do Universo LGBTQIA+ (faço parte da comunidade ativamente) e sempre me pergunto: onde estamos nessas infindas letras? Estou pleiteando, nao sei que conseguirei, que na próxima Parada Gay, tenhamos algo que nos identifique enquanto Comunidade Ativa no Brasil e no Mundo!
Enquanto Comunidade devemos muito a nós mesmas, ainda.
No início, como relatei acima, existimos sim, mas com dificuldades de expressão. E tivemos antes de mim, a Betinha do Bcc, o Laerte Coutinho (cartunista) colocaram suas ideias e avançaram mostrando quem somos, cada uma de sua maneira.
Sair pelas ruas ¨travestidas¨ não era comum e até perigoso.Sempre fomos confundidas com tudo, menos como realmente somos.
Tive de quebrar paradigmas para entrar como Lizz camargo, uma Crossdresser, e não como uma travesti ou uma DragQueen.
Nos ambientes LGBT….Com o tempo fui ganhando respeito na Comunidade.
Ainda temos muito que avançar… Criando uma Comunidade Realmente, vista aos nossos próprios olhos, e da Sociedade em geral.
Que mensagem você deixaria para pessoas que estão começando no universo crossdresser e ainda se sentem inseguras para se expressar?
Penso que tudo se inicia quando se quebram os auto preconceitos. Se enxergando,se aceitando, se conhecendo de dentro para fora
Livrando-se das culpas e, podendo lidar com nossas duas facetas: Masculina e Feminilidade com leveza, consciência de que não somos ETS, e sim Seres Humanos em busca do cremos ser Felicidade e plenitude.
Se há o desejo de estar “IN Femme” de maneira isolada , solitária, sem interação Social, tambem é uma escolha.
Porém se há o desejo de estar em Público, relacionando se com outras, iguais a nós. busque dentro de cada uma seu estilo..tenha a melhor das referências femininas para se espelhar, Afinal são através de Mulheres que nos espelhamos para atingirmos um grau de Perfeição em nossa aparência e nossa postura.
Com isso tudo se torna mais fácil..
Dessa maneira você que deseja ser vista e aceita por quem quer que te veja, degrau a degrau você pode avançar.
E nao se esqueçam, in Femme , sempre use o Toilette Feminino. O estranho é estar Montada e ir ao banheiro masculino
Tudo depende e surge da nossa postura. Cada uma em seu processo, em seu degrau, no seu tempo…è possivel , creiam!
A imagem que quiser ter, será a imagem que terá diante dos olhos alheios.. São escolhas…
Qual a importância de espaços como o ICC, o Studio Cross Dresser e o Rainha Cross para fortalecer a nossa comunidade?
Quando se tem um Local aonde uma Crossdresser tem qualquer tipo de acolhimento, trabalho em prol à sua dignidade e avanço em sua caminhada, aos seu avanço pessoal, é uma luz que se acende para clarear cada movimento, seja na interação social, seja no processo individual , de cada uma.
Aprender, se aperfeiçoar, viver momentos de liberdade e segurança!
São caminhos para se alçar voos…E não são Virtuais, são reais e, com mãos para te guiarem.
Paula, agradeço novamente essa possibilidade de me expressar… através de seu trabalho.
Espero ter sido útil!
Na sequência, te enviarei fotos de várias dessas situações que vivi.., para ilustrar tudo isso!
Obrigada com todo meu Coração
Lizz Camargo
Lizz, sua história me levou às lágrimas. Cada palavra, cada lembrança, cada lição compartilhada ressoou profundamente em mim. Você é um exemplo não só para mim, mas para todas nós. É uma honra imensurável ter tido a oportunidade de participar do concurso que você idealizou e de ter ganhado essa coroa que simboliza não somente a beleza que existe em ser crossdresser, mas o empoderamento e o compromisso com a nossa comunidade.
Quero que saiba que, enquanto eu estiver à frente do ICC, você sempre poderá contar comigo e com o clube. Que seja para dar suporte às suas iniciativas, apoiar seus projetos ou até ajudar na organização e divulgação do próximo Rainha Cross – inclusive, quero me colocar à disposição para implementar sistemas de votação e tecnologia que tornem tudo ainda mais grandioso e acessível.
Lizz, obrigada por tudo o que você representa. Você não é apenas um ícone; você é uma força da natureza que inspira, acolhe e transforma vidas. E isso, minha querida, é algo eterno.
Com todo meu carinho, admiração e respeito,
Paula L. Silva
Rainha Cross 2024 e sócia do ICC, junto com toda a nossa equipe!
Um grande beijo e um abraço apertado! 💖
PS: Assim que receber as fotos eu atualizo aqui.
Respostas de 11
Fantástica a entrevista. A Lizz é nosso patrimônio Cross ❤️
Ótima entrevista com a Lizz.
E na minha opinião, o Rainha Cross que você se tornou rainha, foi o melhor. Foi um dia incrível que eu acompanhei de perto.
Parabéns novamente, amiga.
E um beijo pra Lizz.
🩷🩷🩷
Que entrevista maravilhosa!
A Lizz é incrível 🥰❤️
Inspiradora!
Que entrevista deliciosa.
Realmente um ícone da nossa cultura! Obrigada, Lizz – por desbravar esse território tão acidentado e até então desconhecido… Por nos mostrar com tanta segurança que É POSSÍVEL ser feliz do jeito que somos, sem amarras, sem preconceitos.
Paulinha – um bálsamo de entrevista de uma rainha para outra! Parabéns pela iniciativa! Seguimos.
Obrigada, Lizz – por desbravar esse território tão acidentado e até então desconhecido… Por nos mostrar com tanta segurança que É POSSÍVEL ser feliz do jeito que somos, sem amarras, sem preconceitos.
Paulinha – um bálsamo de entrevista de uma rainha para outra! Parabéns pela iniciativa!
Como muitas de nós, a primeira vez que me montei foi com a Lizz.
Era tão tímida naquela época e hoje a Alexandra já é assumida.
Gratidão eterna. Obrigada por tudo.
Você é maravilhosa, Lizz!
Entrevista magnífica.
A Lizz me montou pela primeira vez esse ano. Acolhedora e criativa, inspirou o melhor em mim! Maravilhosa
É de grande valia a existência de locais e pessoas como vocês.
Parabéns pela entrevista.
A Lizz é sem dúvida a luz que iluminou o caminho da maioria de nós.
Toda a reverência a nossa maior referência 💕
Conheci a Liss pelo face e foi com ela que me produzi a primeira vez, ela me deixou tão a vontade e foi tão caprichosa que quando me vi no espelho, não era mais o masculino, era o que sempre fui: feminina. Obrigada Liss. E obrigada Paula pela entrevista, especial!
Amei a entrevista, a Lizz é um ser iluminado. ❤️